Dia de Gibi Novo: Scott Pilgrim 1 , 2 e 3
Escrito e ilustrado por Bryan Lee O'Malley, Scott Pilgrim é a história em quadrinhos idiota mais inteligente e engraçada que li nos últimos anos. E, embora ninguém mais tenha descrito o gibi assim, muita gente concorda comigo.
O protagonista Scott Pilgrim é canadense, tem 23 anos, uma banda de rock e nenhum emprego. Nas suas muitas horas vagas, o nosso herói namora Knives Chau, uma colegial sino-canadense de 17 anos - com direito a uniforme e tudo. E tudo vai mais ou menos bem até que ele encontra Ramona Flowers, uma entregadora que usa os sonhos dele como atalhos.
Essa sinopse - que poderia ser usada para dezenas de filmes sobre os slackers dos anos 90 ignorando-se a parte dos sonhos - se desenrola de modo totalmente absurdo nas mãos de O'Malley, que dá à trama toque surreais. O primeiro e mais importante deles é substituir a previsível choradeira por uma estrutura roubada dos videogames. Para ficar com Ramona, Scott vai ter que derrotar os sete ex-namorados malvados dela. A tarefa não é fácil, mas Pilgrim é convenientemente o melhor lutador da província.
Referências musicais e aos videogames dos anos 90 abundam nessa releitura dos filmes adolescentes. O fantástico é que - assim como em Ranma 1/2 - o peso de existir é substituído por uma total superficialidade hipercinética. Os dramas dos personagens são tão caricaturais quanto suas paixões adolescentees são para você adulto. Mesmo quando O'Malley tenta - ou finge - dar alguma profundidade aos personagens, a palhaçada impera: os clichês são usados de forma tão intensa que não é possível levar Scott e seus dramas a sério.
Os desenhos colaboram para o efeito. Ao contrário da maioria dos mangá americanos, Scott Pilgrim não tem aquele ar polido ao extremo. Embora a técnica narrativa de O'Malley seja excelente, seus desenhos muitas vezes têm a vitalidade dos rascunhos de alguém que está se divertindo muito.
Scott Pilgrim é o primeiro gibi de um autor da minha geração que consegue agrupar as referências da sua infância e adolescência com ar progressista desprezando a nostalgia que costuma afligir escritores mais sério. Parece fácil, mas não é mole ser superficial.